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Gaúcho de Pelotas, com experiência jornalística internacional, atuando em Rádio, TV e Jornal por mais de 40 anos. Cobriu duas Copas do Mundo (EUA e França), nove edições da Copa América e os Jogos Olímpícos de Atlanta (EUA), entre outros eventos importantes. Idealizador dos Jogos de Inverno Intersociedades de Londrina. Compositor premiado em diversas edições do Festival de Música de Londrina na década de 70.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

LANUS X GRÊMIO

     A violência está no ar,
                   nesta decisão da Libertadores



          (Texto postado pela UOL sobre o clima de tensão que cerca o jogo decisivo de hoje à noite)
                  Alunos da escola que funciona no clube caminham para mais um dia de aula. Antes de chegar ao portão, cruzam a fila de torcedores que procuram os últimos ingressos. Dentro do campo, um cachorro passeia relaxado pelo gramado, enquanto funcionários trabalham às pressas para retirar os assentos de um setor social – uma medida de última hora para aumentar a capacidade de público.

                               Faltando horas para a final da Libertadores entre Lanús e Grêmio, o Estádio Nestor Díaz Pérez, conhecido como La Fortaleza, aparenta à primeira vista um ambiente tranquilo e cotidiano. Mas, para um olhar mais atento, estão por todos os lados os sinais de que o time da casa está vivendo momentos que antecedem a principal partida de sua história centenária.

                              A tensão aparece de forma clara no bate-papo com os torcedores. Em um bar popular a duas quadras dali, um velho torcedor de bigode e barriga imponentes espera o seu choripan, o pão com linguiça local. "Há poucos anos íamos jogar em campos que nem arquibancada tinham. Jamais imaginávamos que chegaríamos até aqui" - diz, referindo-se aos duros tempos de terceira divisão e à final de hoje. Ao saber que seu interlocutor era um jornalista brasileiro, o gente-boa muda o semblante, se nega a tirar foto ou ao menos dizer o nome. Sem perder um certo tom bonachão, sentencia, entre a brincadeira, a mágoa e o conselho sincero: "Vocês nos trataram muito mal lá. Vão sofrer de volta aqui. Se quer um conselho: tome cuidado ao andar por aí".

                     Não foi o único a dizer algo assim. Vários moradores estavam verdadeiramente preocupados, torcendo para que não haja incidentes violentos. Ao que parece, os arredores da Fortaleza viraram mesmo um campo minado para um brasileiro, independente se gremista ou não. Mas a grande inquietação, evidentemente, fica por conta da segurança dos cerca de cinco mil torcedores gaúchos que virão acompanhar seu time.

                 O tricolor que se aventurar a ir à finalíssima vai ter que cruzar os domínios dO Lanús e adentrar a Fortaleza por uma ruazinha sem saída que dá de frente ao portão de entrada de visitantes. Ontem, exatamente ali, dois jovens de 18 anos retocavam um mural de boas vindas às torcidas que vêm de fora. "No Sul mando eu!!", diz a pintura, com um grande escudo do Lanús e uma figura que parece a de um homem libertando-se de uma corrente.

                   Na Grande Buenos Aires, afirmar-se do Sul é afirmar-se em uma identidade de classe trabalhadora, em oposição à aristocracia capitalina, especialmente àquela que mora do lado de lá da Avenida Rivadavia. "Eu mando no Sul" é quase uma declaração de revolta popular. "Este mural está aqui há uns 20 anos, mas estava meio apagado. Não podíamos deixar assim"- disse David, o mais falante dos dois garotos, o que estava vestido com uma calça do Lanús – o outro tinha um short do clube.

                       Os jovens eram dois dos cerca de quatro mil argentinos que vieram ao primeiro jogo na Arena do Grêmio e sofreram nas mãos de parte da torcida gaúcha e da Brigada Militar. "Os ônibus que conseguiram chegar cedo foram apedrejados. Nós ficamos presos por mais de uma hora, o jogo começando e a polícia nos prendendo sem motivo, sem deixar a gente ir para o estádio"- contou. "Depois de mais de um dia de estrada, deu muita raiva, chegar até ali, seu time entrando em campo em uma final e você do lado de fora. Quando entramos já tinha mais de 30 minutos de jogo e só nos deixaram sair duas horas depois do fim da partida"

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