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Gaúcho de Pelotas, com experiência jornalística internacional, atuando em Rádio, TV e Jornal por mais de 40 anos. Cobriu duas Copas do Mundo (EUA e França), nove edições da Copa América e os Jogos Olímpícos de Atlanta (EUA), entre outros eventos importantes. Idealizador dos Jogos de Inverno Intersociedades de Londrina. Compositor premiado em diversas edições do Festival de Música de Londrina na década de 70.

quinta-feira, 23 de abril de 2015


            Ninguém amou mais do que ele. E ninguém no Brasil sofreu tanto por amor. Não foi a toa que ele se tornou o inventor da "dor de cotovelo".  Na verdade, esse termo era comum nos bares da noite que ele frequentava, e refere-se ao homem ou a mulher que se senta no balcão, crava os cotovelos no mesmo, pede um Whisky duplo, faz bolinhas com o fundo do copo e chora o amor que perdeu.
                Ninguém foi tão boêmio como o gaúcho

            L U P I C Í N I O       R O D R I G U E S

                            

                             Lupicínio Rodrigues nasceu em Porto Alegre. Vejam a semelhança nas nossas datas: ele veio ao mundo no dia 16 de setembro de 1914. E eu nasci no dia 16 de setembro de 1941. Adoro esta coincidência. Deve ter influência na paixão que tenho pelas músicas compostas por este homem,  que é diferente de todos os outros que conheci.

                            Neste vídeo que aí está, Lupicínio conta as histórias de algumas das muitas canções que escreveu, todas alicerçadas na vida real, em coisas que realmente aconteceram com ele. É um vídeo pra gente sentar sossegado e receber uma verdadeira aula de paixão e dor de cotovelo. Uma aula que vai durar 46 minutos.
                           Num programa realizado em 1973, ele contou tudo o que reproduzimos agora, neste vídeo de inestimável valor. Afinal, quem de nós nunca sentiu uma dor de cotovelo ?


                      




                            



       
            Lupe (é assim que ele era chamado desde pequeno) nasceu no bairro portoalegrense da Ilhota, na Travessa Batista nº 37. Foi o primeiro dos dezoito filhos do casal Francisco Rodrigues, funcionário da Escola de Comércio, e dona Abigal.




                        A carreira de compositor foi iniciada com Lupe fazendo marchinhas de carnaval para os blocos carnavalescos de Porto Alegre. E em 1930, ganhou um concurso com a marchinha intitulada "Carnaval".
                        E eu me recordo de uma destas marchinhas. Meu pai (que também se chamava Francisco) me colocava sentado no seu colo e cantava: "Quando eu for bem velhinho / Bem velhinho e usar um bastão / Eu hei de ter um netinho, oi / Pra me levar pela mão"     E continuava: "No carnaval eu não fico em casa / Eu não fico, vou brincar /   Nem que eu vá me sentar na calçada / Pra ver meu bloco passar."    Na verdade, Lupicínio sempre esteve presente na minha vida.







                       



  

 O lado boêmio de Lupe tinha um aspecto curioso. Era só de segunda à sexta-feira. No sábado e domingo, ele reunia a família, fazia churrasco e cozinhava para os amigos. Mais tarde, até comprou um sítio para curtir os "familiares" finais de semana.


                        Mas a rotina de Lupicínio, de segunda a sexta, era bem outra.  Ele tinha permissão da mulher pra chegar em casa até às quatro da manhã. E  chegava pontualmente às quatro, tomava  uma sopinha e ia dormir. Acordava perto do meio-dia e ia cozinhar. Almoçava, tirava uma "sesta" como todo o bom gaúcho e, pelas 15 horas, começava o seu ritual boêmio. Vestia seu melhor terno e saía.  Voltava pra  casa só mesmo às quatro da madrugada.


                       Lupe era apaixonado por futebol e, mais uma vez como eu, torcia para o Grêmio. Amava tanto o nosso Tricolor que escreveu o hino que os torcedores gremistas cantam até hoje: "Até a pé nós iremos /  Para o que der e vier /  Mas o certo é que nós estaremos / Com o Grêmio onde o Grêmio estiver ".
                     Lupicínio Rodrigues não era um homem bonito. Também não era um grande cantor, embora fosse afinado. Mas era elegante, educado e tinha uma voz macia que cativava as mulheres, como podemos comprovar no vídeo .   Ele teve vários bares e restaurantes. Conheci um deles, o "Amarelinho Bar", onde vi pela primeira vez Lupicínio de pertinho. Foi num dia do ano de 1961, quando eu morava em Porto Alegre.





                     


Dizem que a consagração de Lupe como compositor veio com "Se acaso você chegasse", que revelou também a voz de Ciro Monteiro, intérprete oficial da canção. Lupicínio não gravava as suas músicas. Apenas cantava em situações especiais, como no programa que gerou o vídeo desta postagem.

                     Mas ele fez outras canções tão boas ou até melhores. Por exemplo: "Nervos de Aço",  "Quem há de dizer?" ,   "Esses Moços",  "Vingança",   "Ela disse-me assim",  "Nunca",  "Judiaria",     "Felicidade",   "Maria Rosa",  "Volta"  e inúmeras outras.


                    Praticamente todos os grandes cantores brasileiros gravaram discos com músicas de Lupicínio Rodrigues. Vejam alguns deles : Linda Batista, Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Francisco Egydio, Isaurinha Garcia e Orlando Silva, todos grandes astros da era do rádio. 
                     Mas também os grandes nomes da MPB pós-bossa nova gravaram Lupicínio:  Paulinho da Viola (Nervos de Aço), Maria Bethânia  (Foi Assim e Loucura), Gilberto Gil, (Esses Moços), Gal Costa (Volta e Loucura) , Elias Regina (Cadeira Vazia e Maria Rosa), Caetano Veloso (Felicidade) e pelo menos mais uma dúzia de nomes conhecidos.





               
                     Diante de tudo isso, não há como discordar que Lupicínio Rodrigues (eleito numa grande promoção como um dos 20 maiores  gaúchos do último século) seja também apontado como um dos maiores compositores da história da Música Popular Brasileira.
  
 
 

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