" A S R O S A S N Ã O F A L A M "
C a r t o l a
Neuza Urquiza Correa de Moraes (foto) é uma amiga muito querida e de muitos anos. Viúva de um ótimo amigo que eu tive, o saudoso dr. Lamartine Moraes. Quando perguntei a Neuza qual era a sua música preferida, ele nem precisou pensar pra responder: "AS ROSAS NÃO FALAM, DO CARTOLA".
"AS ROSAS NÃO FALAM" é mesmo uma canção inesquecível, escrita pelo talentoso sambista da Mangueira, "CARTOLA", num destes lances do cotidiano que todos vivemos. A história é bonita.
Um dia, Dona Zica, a esposa de Cartola ganhou umas mudas de rosas e resolveu plantá-las no seu jardim. Algum tempo depois, ela ficou extasiada com a quantidade de rosas que haviam desabrochado. Foi correndo chamar Cartola e perguntou :
"Vem ver, Cartola ! Por que é que nasceu tanta rosa assim ?"
E o mestre Cartola apenas sorriu e respondeu: "Não sei Zica. As rosas não falam."
Mas a frase ficou remoendo na cabeça do poeta. Dia e noite ele pensava naquilo. Não deu outra: Cartola pegou então o violão, e a música brotou quase que imediatamente. Faltavam três dias para ele completar 65 anos. E disse a todos que a canção foi o presente de aniversário que Deus lhe deu. Cartola passou a ser chamado de "Poeta das Rosas".
E a história teve sequência. Passados alguns dias, o compositor e cantor Paulinho da Viola estava apresentando o seu programa na TV Cultura de São Paulo, que mostrava pessoas ligadas à música, principalmente sambistas ligados às Escolas de Samba, quando foi visitado por Cartola. De repente, no meio do programa, Cartola interrompeu e pediu para apresentar uma de suas composições. Paulinho autorizou, mas ele mesmo tomou a iniciativa de pegar o violão e cantar :
Bate outra vez / Com esperanças o meu coração / Pois já vai terminando o verão / Enfim ...
Volto ao jardim / Com a certeza de que devo chorar / Pois bem sei que não queres voltar / Para mim...
Queixo-me à rosas, mas que bobagem / As rosas não falam / Simplesmente as rosas exalam / O perfume que roubam de ti...
Devias vir / Para ver os meus olhos tristonhos / E quem sabe sonhavas meus sonhos / Por fim !
Angenor de Oliveira era o nome completo de Cartola, que nasceu no Bairro do Catete, no dia 11 de outubro de 1908. Viveu a infância nas Laranjeiras, mas acabou sendo adotado com "filho da Mangueira". Desde cedo pegou gosto pela música, tornando-se na opinião de muitos, "o maior sambista da história da música brasileira.".
Aprendeu com o pai a tocar cavaquinho e violão. Cresceu e virou um cantor, compositor e violonista de reconhecido talento.
A mudança de Laranjeiras para a Mangueira ocorreu por extrema dificuldade financeira dos pais, que cuidavam de numerosa família. Mas foi lá na favela que Cartola acabou encontrando a felicidade, no convívio com Carlos Cachaça e com outros bambas, que o colocaram no mundo da boemia, da malandragem e do samba.
Os sambas de Cartola se popularizaram em vozes ilustres, como Araci de Almeida, Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis e Silvio Caldas.
Seus maiores sucessos foram mesmo "As Rosas não Falam" e "O Mundo é um Moinho". Mas ele deixou também outras belíssimas canções, como "Acontece", "O Sol Nascerá"(com Elton Medeiros), "Cordas de Aço", "Quem me vê Sorrindo" (com Carlos Cachaça), "Alvorada" e "Alegria", entre outras.
Cartola tinha apenas o curso primário. Aos 15 anos, com a morte de sua mãe, abandonou os estudos.
Houve uma época em que arranjou um emprego de servente de obra. Foi quando passou a usar um chapéu-coco para se proteger do cimento que caía de cima. E os colegas de trabalho imediatamente começaram a chamá-lo de "Cartola".
Ele foi o autor do primeiro samba da Mangueira, que se chamou "Chega de Demanda". No final da década de 70, Cartola mudou-se de Mangueira para uma casa em Jacarepaguá. E no dia 30 de novembro de 1980, aos 72 anos de idade, Cartola morreu !
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