A voz que a Ditadura calou. Sucesso na época dos grandes festivais, ela fazia promissora carreira. Foi a grande intérprete e parceira de Edu Lobo nos Festivais da Record. Com Vinicius e Toquinho correu o mundo, cantando o seu amor. Mas veio o AI5 e a prisão de seu marido Isaias Almada, escritor e teatrólogo. E as portas se fecharam para
M A R Í L I A M E D A L H A
Ontem,destaquei aqui no espaço musical do Blog, o grande compositor e cantor Edu Lobo. É justo que destaque hoje a grande companheira de Edu nos palcos dos grandes festivais: MARÍLIA MEDALHA, que contribuiu decisivamente para a vitória da canção "Ponteio" e para o segundo lugar obtido por outra canção de Edu Lobo, desta vez com parceria de Gianfrancesco Guarnieri. E é esta canção que está no vídeo acima, nas vozes de Marília e Edu. Ouçam que música linda: "MEMÓRIAS DE MARTA SARÉ".
Marília Medglia, conhecida como MARÍLIA MEDALHA nasceu em Niterói-RJ e tem 70 anos hoje. Começou sua carreira cantando no Clube de Regatas de Icaraí e no Clube Central, em Niterói, por volta de 1960, com Tião Neto e Sergio Mendes.
Participou em 65 da montagem da peça Arena Canta Zumbi, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, em São Paulo, que lhe valeu o prêmio APCA como "Atriz Revelação do Ano".
O grande impulso veio em 1967. Depois de se apresentar com Edu Lobo na boate Zum Zum do Rio, e no programa Ensaio Geral da TV Excelsior, junto com Sergio Ricardo, Bethânia, Gil e Caetano, a nossa Marília ganhou com Edu e Capinam o Festival da Record 67, com "Ponteio", como contamos ontem aqui neste espaço.
No ano seguinte, novo sucesso ao lado de Edu, no Festival da Record 68: segundo lugar com "Memórias de Marta Saré" e terceiro lugar na Bienal do Samba, com "Pressentimento", de EltonMedeiros e Hermínio Belo de Carvalho.
E para completar a consagração, um show na Bahia, no Teatro Castro Alves, desta vez com Vinicius e Toquinho, espetáculo que deu origem ao LP "Como dizia o Poeta". O show e o disco lançaram "Tarde em Itapuã", "Valsa para o Ausente" e "O grande Apelo". O sucesso foi tão grande que o show fez duas turnês no Exterior.
E no retorno, sucediam-se os sucessos, quando veio a grande infelicidade. O marido de Marília Medalha, o escritor e teatrólogo Isaias Almada foi preso pelos militares, em 1969, sob a acusação de "terrorista", a pior possível para a época. Sumiram com ele. E a vida de Marília tornou-se um inferno. Grávida, ela gastou tudo o que tinha procurando primeiro localizar o marido e depois tentando levar roupa e comida pra ele, que havia sido torturado e estava em estado lamentável. E ainda por cima, o filho de Marilia nasceu quase morto e não durou muito tempo.

Como se tudo isso não bastasse, Marília passou a ser olhada de forma diferente, como se tivesse atuado ao lado do marido suposto terrorista, uma acusação nunca provada. O fato é que nas portas se fecharam para uma cantora pronta para estourar no sucesso. Os convites escassearam, porque os promotores e as emissoras de rádios temiam represálias por estar promovendo uma suposta "terrorista".
E acreditem: terminou assim a carreira de Marília Medalha que, a partir da década de 80 limitou-se a apresentar-se exclusivamente em São Paulo. Ela chega envelhecida, pobre e sofrida à reta derradeira da sua vida. A Ditadura calou a sua voz!
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