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Gaúcho de Pelotas, com experiência jornalística internacional, atuando em Rádio, TV e Jornal por mais de 40 anos. Cobriu duas Copas do Mundo (EUA e França), nove edições da Copa América e os Jogos Olímpícos de Atlanta (EUA), entre outros eventos importantes. Idealizador dos Jogos de Inverno Intersociedades de Londrina. Compositor premiado em diversas edições do Festival de Música de Londrina na década de 70.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

    Uma história triste que 
     ainda não foi explicada



            Uma história realmente triste, ocorrida há quase cinco meses atrás, e que agora é recontada pelo site Correio, de Salvador. Uma tristeza que não acaba nunca para a baiana Ana Paula. Ela continua chorando a morte do filhinho de seis meses.

           O mar sempre fez parte da vida da dona de casa Ana Paula Monteiro, 29 anos. Sua força, sua beleza e seus mistérios nunca a assustaram. Isso mudou no dia 24 de agosto de 2017. Desde então, Ana Paula não consegue vê-lo da mesma forma. Na verdade, ela sequer consegue olhar na direção daquele imenso azul a poucos metros de onde mora. Ana Paula nem sai mais de casa.

            Talvez o nome dela não seja tão familiar quanto a imagem de seu filho Davi Gabriel Monteiro que percorreu redes sociais e estampou manchetes de jornais. Um dos momentos mais tocantes daquele dia foi quando Davi Gabriel, ainda com vida, foi carregado por um socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Pouco depois, veio a informação de que ele não tinha resistido. Aos 6 meses, o bebê de Ana Paula se tornou a mais jovem vítima da tragédia com a lancha Cavalo Marinho I, na praia de Mar Grande, em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica. 
             Naquele acidente, outras 18 pessoas que faziam a travessia da Ilha de Itaparica em direção a Salvador também morreram. Ao todo, eram 116 passageiros, além de quatro tripulantes e quatro policiais militares. Mas as consequências foram mais graves: centenas – entre sobreviventes e parentes – nunca mais serão os mesmos
               Quase cinco meses após o acidente, ainda não há respostas sobre as causas: a Marinha só deve concluir o inquérito no fim deste mês. A Polícia Civil, por sua vez, diz que precisa do laudo da Marinha para finalizar sua própria investigação. A travessia Salvador-Mar Grande, feita pelas empresas CL Transporte Marítimo (dona da Cavalo Marinho I) e Vera Cruz, foi retomada depois de cinco dias e, neste verão, continua em alta. 
                                   “Tinha uma força que puxava ele dos meus braços. Eu segurei na roupinha dele e comecei a puxar, puxar, mas a força levou. Levou ele embora” lembra Ana Paula.                       

                  Ana Paula estava levando o filho para uma consulta no Hospital Martagão Gesteira, em Salvador. Era esse o destino quando mãe e filho, acompanhados da avó, Gildete, e da irmã, Milena, 5, entraram na lancha Cavalo Marinho I. 
                 Ana não fazia a travessia há anos. Nunca tinha andado naquela lancha. Quando entrou, ficou apreensiva. Quase quis desistir, quando viu que outras pessoas decidiram esperar pelo barco seguinte, ao dar de cara com a Cavalo Marinho I. Só que ela não podia perder a consulta. Sabia que tinha que chegar cedo. 
                “Eu tinha que ir, porque aqui não tem essa estrutura. Não tem médico especializado”, conta, já sem segurar o choro. Ao subir na lancha, não tinha lugar para sentar na parte superior. Tinha gente em pé. Quando a viram com um bebê de colo, algumas pessoas levantaram e cederam os assentos para ela e sua mãe. Milena, a filha, sentou um pouco mais distante, entre duas senhoras. 
                Com riqueza de detalhes, ela narra os momentos do acidente com a lancha. Os 10 minutos antes do naufrágio não tinham sido tranquilos. “A lancha começou a sacudir para um lado e para o outro. Eu só pensava: ‘meu Deus’. Minha mãe pediu que eu ficasse calma. Mas, aí, a lancha abaixou para o lado que eu estava. Veio e voltou, veio e voltou. Depois, quando veio, ela não voltou mais. Desceu e emborcou”. 
                 Ela diz que, diferente do que foi dito pela empresa CL na época, os passageiros não ‘andaram somente para um lado da lancha’. Ana Paula diz que ninguém andou. Ninguém correu. Ana Paula segurava seu filho, mas não conseguia. Tentou segurar pela roupa do bebê.

                   A filha de Ana Paula, Milena, também desapareceu na água. No entanto, ela foi resgatada por um dos marinheiros. Davi Gabriel desapareceu. Ela só voltou a vê-lo nas imagens que o mostravam nos braços do socorrista do Samu, em Salvador. Depois, só reencontrou seu bebê numa cerimônia que nenhuma mãe espera viver: no enterro da criança. 

                  Desde então, ela não consegue nem olhar fotos de Davi Gabriel. Com o marido e a filha, mudou de casa depois do acidente. No lugar onde moravam antes, tinha lembranças demais. Os únicos 6 meses de vida do pequeno foram ali. “Eu não conseguia mais entrar na outra casa. Trouxe as coisinhas dele, as roupinhas que ele usava para cá. Milena pergunta do irmão, se ele não vai voltar um dia. O pai está destruído”. 
                                                          
                                                 A lancha naufragou 10 minutos após o começo da viagem (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO)

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